Elizabeth Rajna

“Do meio para o final do concerto minhas costas estavam me matando!”

 

“É muito tempo para manter seus braços suspensos e aquelas cadeiras são uma tortura!”

 

“Não tem visto aquele músico ultimamente?”

 

“Não, ele tem tido um monte de problemas com seus ombros, quase não tem tocado, que pena, ele era tão bom músico!”

 

Esse tipo de conversa de camarim é apenas a ponta do iceberg. Ninguém vai arriscar seu modo de vida falando alto sobre dores ou cansaço, muito menos sobre problemas técnicos que antes nunca foram problemas. Fazer o que, a não ser ir em frente, lutar e tentar não se preocupar demais com o futuro?

 

Esse tipo de dificuldade é enfrentada por muitos músicos e precisam ser encaradas pelos profissionais como um todo – particularmente se essas dificuldades podem ser prevenidas. Porque devemos ficar vendo colegas de profissão ir para o fundo do poço, especialmente aqueles que ainda poderiam estar no melhor de suas carreiras?

 

Pessoalmente fui forçada a pensar profundamente nesse assunto a alguns anos atrás, quando uma série de pequenas dores culminaram num sério problema nas costas que me deixou quase imóvel. No alto dos meus trinta anos, incapaz de trabalhar, médicos confusos – o que eu poderia fazer?

 

Eu ficava pensando: “Isto está ficando pior, estou entrando em colapso. Não posso esperar que os médicos me ajudem porque tenho certeza de que estou fazendo algo errado e isto está fora de suas alçadas. Eles não podem entender o interior da vida de um músico, eles não podem me dizer o que estou fazendo comigo mesma. Se apenas eu soubesse de que maneira errônea estou usando a maquinaria do meu corpo.” Ai estava a pista.

 

Eu precisava de orientação e a consegui de um professor de Alexander. Eu aprendi que todos os meus movimentos continham hábitos que, embora  prejudiciais, poderiam ter passado desapercebidos se eu tivesse um trabalho menos preciso.

 

Para um músico eles eram desastrosos. Minhas dores pararam a medida em que aprendi a mudar meus hábitos em sentar, levantar, andar, carregar, alcançar, etc.; e gradualmente fui capaz de levar estas mudanças para minha performance musical, que como resultado foram melhorando.

 

Eu fiquei profundamente interessada na Técnica Alexander, e decidi fazer um curso de três anos e agora sou qualificada professora de Alexander – embora também ainda toque profissionalmente o violino.

 

Muitos músicos já tiveram alguma experiência com a Técnica Alexander. Para outros, deixem-me tentar responder algumas perguntas óbvias.

 

O que é a Técnica Alexander? Um método para aperfeiçoar a coordenação neuro-muscular. Pode ser aplicada para qualquer atividade; os músicos são rápidos em apreciá-la por causa das exigências em nossa coordenação.

 

De onde veio esta técnica? Ela surgiu de problemas de performance de um artista. F.M.Alexander (1869-1955) era um ator que fazia monólogos. Ele começou a perder a voz e desde que não encontrava nada organicamente errado, ele pensou que deveria ser sua própria culpa. Depois de um prolongado e admirável esforço de auto-observação ele descobriu a causa: a despeito de seu treinamento em dicção e uso da voz, ele estava usando todo o seu corpo de uma maneira que interferia com o trabalho adequado de sua laringe e pulmão. Ele fez um triunfante retorno, notado pela qualidade de sua dicção e respiração. Outros atores procuraram por suas aulas e Alexander passou a perceber que ao resolver seu próprio problema ele fez uma importante descoberta que se aplicava a todo mundo.

 

Pesquisas científicas independentes mostraram, desde então, que as idéias de Alexander eram fatos concretos. E todos nós podemos entender que o corpo, como qualquer outra máquina, realizará melhores performances, com menos desgaste, se for usado adequadamente.

 

Como é ensinada a Técnica? Através de aulas individuais. A maioria das pessoas assimilam o básico em aproximadamente 30 aulas. Tendo observado que as palavras podem ser muitas vezes mal entendidas, Alexander desenvolveu uma maneira de mostrar aos alunos o que queria dizer, com o uso de suas mãos orientava os movimentos até que os alunos fossem capazes de entender e começassem a usar-se da maneira que lhes foi ensinada. É dessa maneira que ensinamos até hoje.

 

Título original: How is your stiff neck today?

Extraído do “The Musician”, março de 1970

Tradução: Laura Mariani

As opiniões de cada autor expressa nos artigos não refletem necessariamente o pensamento da ABTA e seus membros.