INIBIÇÃO
Palestra de Walter Carrington
27 de Setembro de 1984

As pessoas pensam que têm controle consciente, mas de maneira alguma foi isso que Alexander quis dizer, pois a única maneira de conseguir o controle consciente é inibindo. A inibição é a chave.

 

Inibir é formular a decisão, a intenção, o propósito, aqui e agora, de parar de tentar fazer, executar, cumprir a performance. É deixar o corpo trabalhar por si e parar de tentar fazê-Io você mesmo.

 

Quando você exercita esse controle inibitório, se afastando da atividade neuromuscular tumultuosa que está acontecendo em você, um pouco de pensamento calmo e realização objetiva têm a chance de operar. A sua intenção pode ser formulada e proposta de maneira clara. Você apenas está na posição de direcionar quando se afasta de si mesmo o suficiente, com precisão, para ser capaz de estar calmo e ver objetivamente antes de tomar uma decisão.

 

 

 

O PENSAR RACIONAL
Palestra de Walter Carrington
07 de Março de 1974

 

As pessoas aprendem melhor em estado de felicidade, alegria e calma. Não aprenderão tão bem quando estiverem ansiosas, preocupadas, frustradas ou deprimidas. Quando você diz a uma pessoa que ela está fazendo algo errado, isso pode derrubá-la, desanimá-Ia. Isso derruba qualquer um. Nenhum de nós gosta que nos digam que estamos errados. Quando isso ocorre, tentamos dizer que não nos importamos, talvez até jogando com nós mesmos que isso não nos importa. Mas diante da observação objetiva, reagimos em seguida fazendo alguma coisa com tensão, endurecimento, rigidez, respiração presa, etc.

 

Quando temos a intenção de ensinar alguém a fazer alguma coisa, jogar golfe ou tênis, tocar piano, está claro que não queremos focalizar o lado negativo (a crítica), apontando para a pessoa o que ela está fazendo errado. Ao contrário, procuramos focalizar lado positivo, encorajando o que ela está fazendo certo.

 

E quanto ao ensino da Técnica Alexander? Nós não ensinamos as pessoas a fazer alguma coisa, isto é, não ensinamos as pessoas a fazer algo novo. Nosso trabalho é ensinar as pessoas a pensar e, sem ironia, pode-se dizer que isso não é familiar para a maioria das pessoas. Elas pensam sobre o pensar e falam sobre o pensar, mas não entendem realmente o significado disso, porque não tentaram de fato, não tiveram experiência nesse sentido.

 

Não se consegue essa experiência do pensar apenas pensando sobre o pensar ou falando sobre o pensar. O professor consegue essa experiência para as pessoas criando a situação na qual o pensar é possível e, em grande medida, ele faz isso com suas mãos. O uso de nossas mãos é a maneira de passar uma experiência nova.

 

Não estou sugerindo que somos as únicas pessoas que conseguem ter essa experiência. Claro que nãol Pessoas com outras habilidades, como artistas, atletas e performers, têm essa experiência em um determinado momento e isso ocorre por si mesmo. Por exemplo, você está sentado ao piano, tocando, e é como se não fosse você tocando a música, mas algo tocando você. Você não está fazendo, mas a coisa está acontecendo e você não deve interferir nisso. As pessoas que não têm nenhuma habilidade em particular, talvez não tenham tido essa experiência, pelo menos não o bastante para terem consciência disso.

 

Dizem que todo homem sensato (sábio) é da mesma religião e o homem sensato jamais diz qual é essa religião. Então você também poderia dizer que quem domina uma habilidade acredita no mesmo fundamento da técnica, mas o que é esse fundamento ninguém diz.

 

Esse é o segredo e assim permanece, pois revelá-Io exige uma maneira de comunicar esse segredo. Não é que desejemos guardar o segredo. Adoraríamos compartilhá-Io, mas isso só é possível quando se estabelece alguns meios (métodos, processos), de comunicar a experiência. Isso é que nós, professores de Alexander, fazemos com nossas mãos.

 

À medida que obtemos sucesso nessa comunicação, no compartilhar o segredo, a experiência acontece, funciona, respira, faz­-se por si mesma, desde que você não interfira. Nessa situação não há ansiedade, estresse, nenhum fator emocional que dificulte a aceitação de críticas. Com certeza, o aspecto emocional está tão ligado com o que está acontecendo ao redor, que isso permite a você perceber o processo ocorrendo e dizer: isso estaria ainda melhor se eu parasse de fazer tal coisa, se eu pudesse evitar essa pequena interferência.

 

Esse é o estado que poderíamos verdadeiramente chamar de pensar racional. Uma exploração, a descoberta de algo inexplorado.

 

Para que essa experiência aconteça, para provocá-la, temos que criar um certo grau de afastamento, neutralidade, em relação a nós mesmos, e é a nossa reação emocional que tende a tornar isso difícil.

 

 

Walter H. M. Carrington treinou com F. M. Alexander de 1936 a 1939. Trabalhou como seu assistente e continuou com o curso de treinamento para professores depois da morte de Alexander, em 1955. Hoje é o diretor da Constructive Teaching Centre, Londres, membro da Society of Teachers of The Alexander Technique – STAT.
Tradução: Isabel Sampaio

As opiniões de cada autor expressa nos artigos não refletem necessariamente o pensamento da ABTA e seus membros.