Roberto Reveilleau & Valéria Campos

A Técnica Alexander é um meio para as pessoas aprenderem como usar a si próprias em suas atividades diárias prevenindo pressões e estresse desnecessários e promovendo harmonia e vitalidade. Desenvolvida há mais de 100 anos a Técnica Alexander é um estudo prático de certos aspectos da natureza das relações entre mente e corpo.

 

ORIGEM

 

Frederick Matthias Alexander (1869-1955) foi um declamador Shakespeareano que no final do século XIX, em função de suas constantes apresentações teatrais, começou a sofrer de problemas respiratórios e rouquidão. Observando que sua voz voltava a funcionar melhor quando parava de ensaiar e que piorava quando retornava a sua atividade normal, Alexander inicia um processo de pesquisa que durou aproximadamente 9 anos. Observou que o Uso que fazia de si mesmo afetava diretamente o funcionamento geral do organismo. A partir dai desenvolveu uma prática revolucionária com base na unidade psico-física do Homem.

 

Embora pouco conhecida no Brasil a Técnica Alexander é amplamente aplicada em diversos países. Na Inglaterra é custeada pelo National Health Service, sistema de saúde publico britânico. Também vem sendo incluída nos currículos de Universidades, Escolas e Conservatórios de Música, Teatro e Dança ao redor do mundo como base para uma exploração criativa, aperfeiçoamento da saúde, clareza mental, compreensão e expansão do potencial Humano.
Royal Academy of Music, Dartington College of Arts, Juifliard School, Yale School of Drama, New England Conservatory of Music, Royal Conservatory of Music em Toronto e o Conservatório de Música de Paris são algumas das instituições que vêm ensinando a Técnica Alexander ao longo os anos. Yehudi Menuhin, Paul McCartney, Sting, Julian Bream e James Galway são alguns nomes que já foram a público endossar este trabalho.

 

“Eu tomei contato com a Técnica Alexander na faculdade. Minha surpresa foi grande e extremamente positiva ao constatar que ela lida com algo muito maior do que apenas uma melhor performance. Chegaria a ser sem sentido pensar somente na execução Instrumental, pois a execução é apenas uma parte do todo – a maneira como eu me uso. O trabalho da Técnica se aplica às 24 horas do dia, a toda a vida, pois podemos sempre melhorar a forma de nos usarmos, e sempre há o que melhorar.”

 

“No estudo de meus instrumentos, o piano e o violoncelo, tenho tido grandes resultados no tocante ao relaxamento muscular, e ao controle do “nervosismo” ao tocar. Na última apresentação pública pude constatar este fato, ao piano, de que tinha plenamente a situação sob controle, e relaxada.”

 

“Não tenho dúvidas do grande impacto positivo que a Técnica teve na minha vida prática de músico-contrabaixista… eu tomei consciência da maneira como eu vinha usando o meu corpo – ombros, braços, pescoço – e pensar em reformular estes hábitos, estabelecer novas relações de liberdade e permissão entre corpo e mente como um conjunto integrado … ”

 

“Foi a 2° vez que fiz[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_column_text][o curso de extensão da Técnica Alexander][/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_column_text] e dentro de uma outra realidade: dores fortes em virtude de trabalho com violino… Comecei o semestre com receio de ter que largar o instrumento e agora já tenho esperança em diminuir ainda mais as dores ou quem sabe viver sem elas… ” (I)

 

 FORMAÇÃO DO MÚSlCO

 

Toda a concepção da sociedade moderna é a de se trabalhar para o resultado; não desenvolvemos a capacidade de pensar, escolher e principal mente de parar. Acabamos por ficar presos em padrões automáticos de respostas. Chegamos a tal ponto de deteriorização da nossa qualidade de vida que vamos, muitas vezes, limitando nossos movimentos, ficando mais lentos, perdendo a vivacidade, evitando fazer determinadas coisas, usando cada vez mais paliativos para amenizar os problemas que são cada vez mais frequentes e intensos.

 

Tocar um instrumento envolve a habilidade de coordenar pensamento, movimento e expressão. Muitas vezes, na tentativa de se obter um resultado sonoro, problemas posturais e de coordenação são subestimados, padrões de tensão muscular se estabelecem e tornam-se habituais. O crescente interesse demonstrado pela Técnica Alexander nos principais conservatórios e escolas de música no mundo, indica a existência de uma necessidade crescente no jovem músico: uma boa coordenação para poder tocar um instrumento sem causar danos ou desconforto a si mesmo.

 

Na conferência internacional: Health and the Musician. realizada na University of York, em março de 1997, foram divulgados os seguintes dados referentes à pesquisa realizada pela Federation Internacionale des Musiciens em 56 orquestras ao redor do mundo: (2)

 

• 57% dos músicos sofrem de problemas médicos que afetam seu trabalho;

• Um quinto reclama de cansaço ou dores musculares mais de uma vez por mês;

• 25% têm dores mais de uma vez por semana;

• 55% sentem dores após tocar um instrumento;

• 41% tiveram a experiência de não controlar os movimentos de seus dedos;

• 22% dos músicos tiveram que parar de tocar no ano passado devido a dores;

• 83% consideram que seu treinamento não os preparou adequadamente;

• A localização das dores musculares era basicamente no pescoço e nas costas.

 

O corpo, instrumento que vai sendo danificado e distorcido, torna-se pesado e incapaz por causa do excesso de tensão. O padrão geral do mau Uso é comum a todas as pessoas. Invariavelmente os músculos do pescoço se contraem excessivamente fazendo com que a cabeça perca a sua posição natural no alto da coluna. Isto acarreta enorme contração de alguns grupos musculares de sustentação do corpo. O resultado é um exagero nas curvas naturais da coluna, pressão prejudicial nas vértebras e articulações, esforço demasiado e mau relacionamento dos braços e pernas com o tronco. Isso sem levar em conta problemas específicos decorrentes do mau Uso durante a prática diária de treinamento e ensaios do instrumentista e do cantor.

 

A TÉCNICA ALEXANDER NA UNI-RIO

 

O trabalho da Técnica Alexander vem sendo realizado há mais de 4 anos na Universidade do Rio de Janeiro (UNI-RIO) através de Cursos de Extensão Universitária oferecidos pelo Departamento de Música em convênio com os Seminários de Música Pró-Arte. É a primeira vez no Brasil que uma Universidade de música oferece periodicamente a seus alunos aulas da Técnica Alexander. Estes cursos tem dado condições aos estudantes de desenvolver seu treinamento musical paralelamente ao estudo da Técnica Alexander. Eles aprendem a observar e prevenir a automatização de hábitos neuro-musculares que causam tanto um empobrecimento na prática do canto e do instrumento quanto resultados nocivos a saúde. Nas aulas da Técnica Alexander os alunos de música são incentivados a praticar suas habilidades musicais tendo como objetivo, não o resultado musical, mas os meios pelos quais eles usam o seu próprio corpo e inteligência como instrumento principal de trabalho. Os resultados são bastante positivos e os alunos consideram esta técnica de grande valia no aprendizado e performance de suas artes.

 

“Este foi meu segundo semestre seguido tendo aulas do Técnica Alexander. Foi novamente uma experiência excelente, que me ajudou no meu estudo do piano e nas minhas atividades diárias. Vejo cada vez mais que o trabalho da Técnica é indispensável para mim, pois eu preciso realmente estar bem conectada para poder tocar bem.”

 

“… a minha relação com o instrumento de trabalho – contrabaixo – também já é outra, muito diferente, porque a minha relação comigo mesmo é outra, mais sensível, mais completa, mais livre.”

 

“Como pianista, tenho sido exigido em um trabalho técnico que necessita de grande relaxamento aliada à capacidade de ação rápida… o aprendizado da Técnica Alexander favoreceu bastante minha compreensão do meu uso do corpo e, consequentemente, me auxiliou em minha performance.”

 

“… sinto que nos ensaios seguidos ao nosso encontro há uma percepção diferente do meu corpo, como se ele fosse mais um todo ….em relação à presença cênica sinto que a técnica me enriquece …ganho mais segurança e naturalidade … ”

 

(3) 1 &3 – Relatos de estudantes de múslca da UNI-RIO 2-STATnews, setembro de 97, Londres

 

Roberto Reveilleau é graduado em Educação Física no Rio de Janeiro e Valéria Campos com D.E.A. em Psicologia pela Ecole des Hautes Études en Sciences Sociales, Paris, são professores formados na Técnica Alexander pelo Constructive Teaching Centre, Londres, aprovados pela Society of Teachers of the Alexander Technique, Inglaterra e membros da Associação Brasileira da Técnica Alexander. Lecionam no Rio de Janeiro onde também ministram cursos de extensão universitária da Técnica Alexander na UNI-RIO.

As opiniões de cada autor expressa nos artigos não refletem necessariamente o pensamento da ABTA e seus membros.