Palestra de Walter Carrington
05 de Julho de 1985

Vocês se lembram que uma das idéias mais importantes de Alexander, em “The Use of the Self’, é sua descoberta do efeito de puxar a cabeça para baixo, em oposição ao efeito de expandi-Ia para cima. Quando a puxamos para baixo, diminuindo assim nossa estatura, colocamos muitas partes do corpo de maneira incorreta. Quando a expandimos para cima, a estatura aumenta e tira todo o peso e pressão das partes do corpo, que assim trabalha melhor. Então expandir, ir para cima, é necessário e, para que isso aconteça, o pescoço deve estar livre, a cabeça ir para cima e para frente (expandir) e as costas alongarem-se e alargarem-se. Mas é preciso encontrar a maneira de fazer isso acontecer sem esforço muscular. Não adianta expandir, tentando empurrar, puxar ou esticar. É preciso dar instruções ao seu corpo e persuadi-Io.

 

De todas as direções, a mais importante é expandir para cima. Para fazermos isso, o pescoço deve estar livre e a cabeça liderando, para cima e para frente. Assim as costas poderão se alongar e alargar. Você tem que desejar que isso aconteça e o desejo tem que estar muito cIaro e definido para você. Se esse querer não estiver muito claro, você estará longe de alcançar seu objetivo. É preciso, também, que você se lembre constantemente do seu desejo, porque queremos tantas coisas diferentes que os nossos desejos mudam a toda hora. Trata-se de uma mudança de hábito – de puxar para baixo, para expandir para cima. Você tem então de ser persistente no seu desejo. Você não pode se permitir esquecê-Io, porque toda vez que isso acontecer, haverá um retorno ao seu hábito anterior. Assim, vemos que há persistência e consistência no processo ao qual Alexander se referiu como direção.

 

Como as palavras entram nesse processo? Dando instruções a você mesmo: “Eu desejo meu pescoço livre”.

 

O real querer é muito mais complexo do que palavras, mas as instruções têm um papel muito importante, porque organizam os pensamentos e desejos na sua mente. Você não estará, assim, tentando colocar a cabeça para cima e para frente, antes de livrar seu pescoço; nem estará tentando alongar as costas, esquecendo-se da cabeça.

 

Por outro lado, as palavras não são mágicas. Não é bom pensar que repetindo as palavras, como uma fórmula mágica, tudo vai acontecer. Pronunciar somente as palavras não significa estar direcionando. Nós precisamos organizar o processo de pensamento, que é muito complexo. Esse processo está ligado a sensações e percepções, hábitos e emoções. A imagem do corpo, além do aspecto puramente físico, é resultado de tudo isso. É a expressão do quanto nos sentimos importantes, confiantes, ou o contrário disso. A imagem do corpo projeta o que a pessoa pensa ser, o que ela gosta de ser para os outros, ou o que ela é verdadeiramente. Em meio a essa complexidade de emoções, sobre o que você faz, pensa e sente, aparece o hábito de puxar para baixo, de reduzir o tamanho. Segundo a descoberta de Alexander, esse hábito tem sérias conseqüências, porque puxar para baixo significa ir em sentido contrário à vida. É a destruição da vida. Assim, é essencial para nós expandir para cima. Temos que desejar e nos direcionar para isso.

 

Em uma aula técnica, o aluno é solicitado a não fazer nada. Ele simplesmente se levanta e senta, com direção, desejando expandir, sabendo que esse processo envolve o pescoço livre, a cabeça indo para cima e para frente, as costas se alongando e alargando. Ele dirige seu pensamento, sua intenção e desejo para isso. O aluno não deve se preocupar com o que as mãos do professor estão fazendo, nem como ele, aluno, as sente. As mãos do professor, guiando, movendo, soltando e levando para cima, estão facilitando ou dando expressão ao processo de expansão que o aluno está desejando. A ação do professor facilita ao aluno alcançar a expansão. É importante, por isso, haver um trabaIho individual. É essencial que o aluno direcione e as mãos do professor vão abrindo possibilidades de respostas que, até então, talvez não pudessem estar presentes.

 

Trata-se, na verdade, de focar as direções primárias, deixando o resto de lado. Trata-se de não fazer nada.

 

A direção é um processo psicofísico. Envolve achar o caminho no qual você pode estar totalmente consciente do que quer e dos meios pelos quais vai conseguir o que quer. E seguirá esse caminho com segurança, sem desvios ou interrupções, até que ele se torne estabelecido.

 

Walter H. M. Carrington treinou com F. M. Alexander de 1936 a 1939. Trabalhou como seu assistente e continuou com o curso de treinamento para professores depois da morte de Alexander, em 1955. Hoje é o diretor da Constructive Teaching Centre, Londres, membro da Society of Teachers of the Alexander Technique, STAT.

Tradução: Isabel Sampaio

As opiniões de cada autor expressa nos artigos não refletem necessariamente o pensamento da ABTA e seus membros.